Parte 2 - Prima Clarie
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Depois do cochilo amarrei um coque , coloquei uma roupa qualquer e sai para visitar minha prima.
Eu estava rezando para que Clarie fosse ''gente'', e felizmente pela aparência da casa , a familia dela parece decente. Era uma casa verde com listras brancas próximo a janela , a casa era de andar e tinha um jardim. Clarie apareceu rapidamente na janela , sorriu e correu para abrir a porta.
- Prima !
- Se lembra de mim? - olhei-a espantada.
- Obvio que não , tio Rob ligou pra mim agorinha. - ela deu risinhos e me puxou pelo braço convidando
a entrar.
Clarie não se parecia nada com o que eu tinha imaginado , ela parece... uma criança de 10 anos , e não
uma garota de 16. Eu não me sentia nem um pouco confórtavel com a sua meigice e delicadeza , nunca fui acostumada com isso, sempre encarei esse tipo de pessoa.
- Então o que lhe traz de volta?
- Eu vim passar as ferias aqui.
- Aposto que sentiu saudades daquela trilha! Mamãe dizia que nois corriamos muito lá , e que uma vez eu e você até nos perdemos lá.
- Minha mãe nunca falou nisso...
- Sua mãe sempre quis esquecer daqui, sabe disso.
- O que estava fazendo antes de eu chegar ?
- Estava terminando de arrumar a sala , e agora eu iria caminhar, mas não me importo de ficar aqui conversando.
- Ou podemos caminhar juntas...
- Ótimo.
Devo admitir que o clima é perfeito para fazer caminhadas, tinha muitos pinheiros que fazia sombra durante o dia.
- Parece entediada - disse Clarie.
- Está tão na cara ? é uma pena, mas ja estou assim no primeiro dia.
- Tio Rob falou sobre você ser irônica , e um pouco rebelde.
- Rebelde? Como meu pai ousa falar isso sendo que passei a maior parte da minha vida com minha mãe.
- E seu pai não tem razão?
Fiquei quieta.
- Não se acha um pouco rebelde , ou que seja, irônica?
- Talvez... Mas acho que não seja necessário admitir para os outros se eles captam sozinhos - Nesse momento pensei um pouco na minha mãe , ela vivia dizendo que existia vezes que eu era implicante , que ninguém me suportava , mas tentava se desculpar no final dizendo que eu sou a melhor filha que ela poderia ter.
- Clarie , o que você costuma fazer aqui na cidade ?
- Além da escola , eu caminho por aqui, saio com alguns amigos as vezes eu faço compras com as amigas, nada de muito especial - ela riu e continuou: - Mas é bom morar aqui .
Tentei disfarçar o suspiro , mas nesse lugar silêncioso era impossivel não percebê-lo, fiquei com a consciência pesada , por deixar Clarie magoada , estava tentando parecer animada e feliz por estar aqui , quando na verdade estava louca para voltar . Realmente eu não nasci para morar em cidade pequena.
- Me desculpe.
- Pelo o que ?
- Estou um pouco cansada ... - menti.
- Devemos voltar?
- Acho que sim está ficando escuro.
Fiquei um pouco encabulada com o que Clarie disse, talvez porque ninguém jamais me disse isso além da minha mãe. Voltamos logo para a casa , ja estava de noite e a mãe de Clarie ja estava jantando.
- Chegamos - Disse Clarie.
- Boa noite - disse.
- Olha se não é a filha do Doutor Roberto, em carne e osso, como você cresceu !
- Não vai apertar minhas bochechas como fazia antes né tia?
- Não querida, mas fico triste de saber é que a única coisa que te faz lembrar de mim.
Clarie ria alto e descontroladamente enquanto servia o macarrão no prato, minha tia parecia jovem, tinha os cabelos pretos, olhos cor de mel e a expressão calma, ela não se parecia tanto com Clarie , além de ser um pouco mais escura e não ter a mesma cor de cabelo , ela não era meiga , e carismática como a filha , era apenas a tia Sônia.
- Vai ficar para dormir ?
- Eu ? Não , acho que vou para casa agora descançar amanhã eu volto.
- Já vai ? Não , fique mais um pouco , estava com saudades.
- Amanhã eu volto Clarie , eu prometo.
- Tudo bem ... boa noite.
- Boa noite tia , até amanhã.
- Boa noite.
Em casa , as luzes ainda estavam apagadas , talvez meu pai estivesse dormindo , ou fazendo plantão , o que parecia mais provável. Fui para o quarto no escuro mesmo , era incrível como a minha visão era ótima do escuro.
Continua amanhã....
Postado por : Leticia Borges
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